“Vivo num país europeu que tem o pior Campo de Refugiados do Mundo”
Francisca Onofre, diretora do JRS Grécia, vive em Atenas desde o Verão de 2018. Dá-nos o seu testemunho:
“Os últimos dois anos foram anos de reaprender a ler os sinais, a discernir, a confiar e aceitar o que a Vida me vai colocando no caminho. Foram anos de perceber o que é isto de viver em missão, de crescimento do desejo de estar perto, viver para e trabalhar com e pelas pessoas em situação de maior vulnerabilidade (os pobres dos pobres, os que ficam à margem, aqueles que não gostamos de falar sobre eles…) e de ir pensando em que área estava chamada a trabalhar. E, foi no meio destas perguntas que no início de Julho recebi um email do Filipe Martins, sj, com o desafio do JRS Grécia.
Grécia? Na verdade Grécia, nunca tinha estado nas minhas opções, nessa altura estava mais inclinada para fazer algo em África. Mas a proposta era Grécia, e era preciso alguém com características e capacidades que se encaixavam na minha pessoa. Não hesitei muito, um dia depois de ter recebido o email estava a responder ao Filipe a dizer que estava disponível e muito motivada para falar com o Diretor do JRS Europa e acabei por ser escolhida para vir para este país europeu que agora é a “minha África, o meu lugar de missão!”
Vivo num país europeu que tem o pior Campo de Refugiados do Mundo (Moria), como é que a Europa pode ter o pior Campo de Refugiados do Mundo, onde quase ninguém quer trabalhar, onde as ONGs mal entram, onde milhares de pessoas vivem em condições desumanas? Mas a Grécia não é só Moria! Em Portugal, as informações que nos passam dão-nos a ideia de que, à exceção de Moria, a “Grécia está melhor”. A verdade é que, somando a uma crise económica que ainda é vivida e sentida por muitas pessoas, a modo de exemplo, de acordo com dados do Ministério da Migração Grego, neste momento encontram-se na Grécia 74.000 refugiados e requerentes de asilo, existe Samos (Ilha de Samos tem um Campo com capacidade para 600 refugiados, sendo que neste momento “acolhe” 4310, segundo dados do ACNUR) e este ano a Grécia voltou a acolher mais refugiados em comparação com o ano passado.
Aqui no JRS Hellas (Grécia), trabalhamos em Atenas com refugiados urbanos, num dos bairros com mais imigrantes e refugiados. O JRS Hellas tem um Centro de Acolhimento para famílias e mulheres, que começou por ser um Centro de Emergência onde as pessoas eram acolhidas maioritariamente por 2 ou 3 dias (Atenas era então um lugar de passagem), com o cerrar das fronteiras o Centro de Acolhimento aos poucos vai-se transformando numa Comunidade de Reinserção Social (agora as pessoas podem chegar a ficar anos na Grécia até conseguirem chegar ao destino que desejam); temos um Centro de Integração Social para crianças e jovens (Centro Pedro Arrupe), neste momento com cerca de 170 alunos, onde a equipa acompanha os alunos nos seus estudos e oferece outras atividades extra curriculares, potenciando momentos de crescimento global; temos um Centro de Dia, com um programa de educação não formal para jovens adultos e adultos (aulas de grego, inglês, francês, computador, workshops) e uma atividade para criar comunidade entre os migrantes e refugiados a que chamamos de Tea Time; e por fim temos uma loja social onde no ano passado entregamos roupa e bens de casa a mais de 1300 pessoas.
Tudo isto graças a uma equipa e a muitos voluntários que diariamente se entregam a esta missão que é o JRS Hellas e a muitos financiadores (maioritariamente particulares) que ao longe apoiam e acreditam no nosso trabalho e missão.”
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