“Reconheço a cada instante a vitória da resistência e da resiliência do Bem em cada momento”
Sou Escrava do Sagrado Coração de Jesus e creio que esta é a razão de fundo que me trouxe até ao Iraque, ao Curdistão, enviada em missão pela Congregação, a colaborar com o Serviço Jesuíta aos Refugiados no acompanhamento, serviço e defesa dos refugiados e deslocados que a guerra, com tantos cúmplices, e a brutalidade do DAESH provocaram nestes dois países martirizados que são o Iraque e a Síria.
Entre junho e agosto de 2014, mais de 500 mil pessoas, procedentes de Mossul, da planície de Ninewa e das regiões de Zummar e Sinjar, foram obrigadas a deslocar-se para esta região do Curdistão fugindo da violência e ocupação desses territórios pelo DAESH. Esta deslocação massiva foi considerada como uma das maiores deslocações internas no mundo.
Desde que aqui cheguei, faz agora um ano, tenho vivido um quotidiano estranho. Uma experiência profunda que faço permanentemente e que descrevo como esta coexistência esquizofrénica entre o bem e o mal; entre a vida e a morte; entre o amor e o ódio; entre o acolhimento e a rejeição; entre o perdão e a vingança…
Quem é que se atreve a criticar a atitude mais lógica de responder ao mal com o mal? Como é possível dizer a uma mãe que viu o filho ser executado à sua frente porque foi apanhado a falar ao telemóvel que não odeie? Como é possível dizer a uma mulher que foi repetidamente abusada sexualmente e vendida que continue a amar? Como é possível dizer a uma criança que acaba de ver o seu pai ser levado por homens armados que tudo se resolverá? Como é possível dizer a um jovem que foi obrigado a matar uma e outra vez que o valor da vida é intocável?
E, no entanto, reconheço a cada instante a vitória da resistência e da resiliência do Bem em cada momento. Apesar de tudo, são inúmeros e constantes os gestos e os atos de gratuidade, de compaixão, de entreajuda a que assisto. Como aquelas pequenas plantas verdes – de esperança – que rompem e crescem por entre o asfalto que, apesar do peso da sua força, é incapaz de as sufocar.
Os projetos que o JRS começou em Sharia e em Araden são como essas pequenas plantas de esperança: promover o bem-estar psicossocial das pessoas deslocadas, tornando acessíveis redes de serviços, de assistência de emergência e de apoio social; prover formações de educação não formal e apoio escolar aos alunos do secundário; variadas formações em lifeskills para adultos, de forma a promover a sua independência financeira; promover a formação das mulheres; prover apoio psicológico/psiquiátrico às vítimas graves do terror.
É um erro confundir esperança com otimismo! A esperança é a força que permite atravessar qualquer realidade, é infinita; o otimismo é finito porque é apenas o desejo de que as coisas mudem e se elas não mudam a porta fica aberta para o desespero.
«Basta um homem bom para haver esperança!» (Papa Francisco). A bondade está ao nosso alcance e basta que cada um de nós seja bom para haver esperança.
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