Pe. Abel Bandeira, Capelão do JRS “A Igreja sempre esteve perto dos mais pobres e dos refugiados”
Nasceu em 1963 em Oliveira de Azeméis. Entrou para a Companhia de Jesus em 1986 e hoje conta-nos um pouco da sua história e do seu percurso no JRS:
“Entrei no Noviciado do Santíssimo Nome de Jesus em Coimbra no dia 6 de Outubro de 1986. Fui o único noviço desse ano, e, desde o primeiro dia, percebi que tinha de aprofundar a sério a relação com Jesus para poder progredir. Uma das coisas que me impactou foi o visitar uma senhora doente de cancro que vivia numa casa miserável num bairro da cidade. Deus estava-me a chamar assim a trabalhar com os mais pobres.
Logo após ser ordenado sacerdote em Julho de 1998, fui, passados três dias, viver para um bairro social, Pedreira dos Húngaros, Miraflores. Bairro totalmente de caboverdianos á excepção de um casal de idosos portugueses. Viver numa barraca com os pobres durante três semanas foi marcante! Terminados os estudos de Teologia recebi como missão o bairro do Pragal, na margem sul do Tejo. Passei 5 anos num T2 de habitação social de novo com os pobres. Dava aulas de Educação Moral e Religiosa Católica nas escolas do bairro e aos fim de semana organizava actividades com as crianças e adolescentes. Em 2011 veio o pedido de fazer missão em Moçambique. Fui para a cidade da Beira e assumi uma paróquia de periferia. Todos os dias tinha pobres a pedirem ajuda. Entrei em todos os bairros de construção precária e apercebi-me da miséria e das péssimas condições das pessoas. Em 2014 fui nomeado mestre de noviços, encarregado da formação de jovens que querem ser jesuítas. Ao domingo ia celebrar missa numas comunidades rurais no meio do mato a 25 kms da Beira. Uma vez mais a simplicidade do povo e das celebrações, a proximidade dos mais pobres a tocarem-me profundamente.
A Igreja sempre esteve perto dos mais pobres e dos refugiados. Recordo que a sagrada família sofreu na carne a experiência de ter de abandonar Israel e refugiar-se no Egipto, por causa da perseguição do Rei Herodes. Nestes últimos anos, destaco a figura do P. Pedro Arrupe que há 40 anos, em 1980, pediu aos jesuítas que actuassem na crise de refugiados que se tinha desencadeado a partir do Vietname e assim nasceu o JRS.
Em Setembro de 2019 comecei a trabalhar como capelão do JRS. Depois de passar pelos vários pólos do JRS em Lisboa, acabei por me concentrar no CATR e acompanhar jovens refugiados no reforço do seu português. A maioria dos meus alunos são muçulmanos, e comecei a aprender a conviver com eles e a respeitá-los na sua diferença, sem qualquer proselitismo da minha parte. Um episódio engraçado foi a festa de Natal em que senti uma alegria especial tanto na Eucaristia como no almoço. A alegria estava em crescendo, quando de repente me apercebi que a minha bolsa tinha desaparecido. Dei a volta ao refeitório todo, enquanto o Pai Natal com um ar estúpido, distribuía presentes. Toda a gente eufórica e eu a perguntar-me quem teria levado a minha bolsa com uma alva e estola de padre…Até que encontro um responsável do CATR a dizer-me que, uma das minhas alunas com quem tinha almoçado, tinha distraidamente pegado na minha minha bolsa que estava ao lado da dela e a tinha levado para o CATR…ufa!!! A ansiedade baixou e a alegria voltou!”.
Pe. Abel Bandeira
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