TESTEMUNHOS DOS 40 ANOS
Há 40 anos que seguimos os passos do nosso fundador Pedro Arrupe, há 40 anos que tentamos ajudar migrantes e refugiados a construirem uma vida digna.
Todos os dias lutamos por quem precisa de tantas maneiras diferentes mas com o mesmo objetivo: criar um mundo melhor.
Estamos espalhados pelos 4 cantos do globo e entre utentes, voluntários, trabalhadores e apoiantes da missão somos imparáveis – estes 40 anos são apenas o início.
Veja aqui os testemunhos dos nossos gabinetes sobre o que significa para nós:
ACOMPANHAR – SERVIR – DEFENDER
“Acompanhar é estar por inteiro e disponível (mesmo fora de horas) para escutar ou estar com quem nos procura.
É conhecer a fundo as reais motivações, o potencial e as necessidades daqueles que nos acompanhamos.
É entrega, sem retorno ou expectativa. É saber “desenvalancar” a questão que desbloqueara da situação problema do residente e orientar sem impor ou decidir por…
É procurar fazer da CASA um local onde sempre pode voltar, ou recorrer.”
“O que é acompanhar? Acompanhar pode assumir diferentes significados. Na UHSA, e para mim, acompanhar significa seguir o “mesmo caminho e sentir o mesmo que o outro”. Ou seja, estar disponível para ouvir, perceber, sentir e ajudar os detidos enquanto estão na UHSA. Isso obriga-nos muitas vezes a distanciarmos-mos do que estamos habituados e consideramos como certo, devido às crenças impostas pela nossa cultura e sociedade. Para isso, temos de ter um olhar mais profundo e sem preconceito, para percebermos o quanto estas pessoas sofreram e muitas vezes continuam a sofrer, em silêncio. Por isso acompanhar para mim, é tão simples como, estar disponível para ouvi-los, compreendê-los, e ajudá-los a reduzir o mal-estar, e para isso não é necessário fazer coisas milagrosas, muitas vezes basta sermos genuinamente preocupados e dedicados às suas necessidades.”
“Na PAR a missão de Acompanhar assume diversas dimensões e diferentes perspetivas, tendo em conta os seus diferentes eixos de ação – quer seja no âmbito PAR Famílias, quer seja no âmbito PAR Linha da Frente.
No âmbito do PAR Famílias o Acompanhar é um acompanhar de enorme proximidade, familiaridade e de confiança. Acompanhamos as nossas famílias nas suas dificuldades no dia-a-dia, quer seja no acesso aos serviços públicos, quer seja na procura de emprego ou no acesso à habitação.
No PAR Linha da Frente o Acompanhar é um Cuidar da Espera. É cuidar das famílias que chegaram à Europa e é ajudar a colmatar as suas necessidades mais básicas ou primeiras, seja a necessidade de bens materiais ou da necessidade de afeto, de um abraço e de uma atenção mais pessoal.
Na PAR Acompanhar é, no fundo, a nossa missão, aquilo que nos move, mas igualmente aquilo que nos une no nosso trabalho em prol das famílias refugiadas por nós acolhidas!”
“Ao longo destes dois anos, acompanhámos em Évora 80 pessoas. A missão de acompanhar só é possível quando vivida com empatia e restaurando a cada pessoa que nos chega, a sua dignidade humana.
O Centro de Évora existe como primeira linha no acolhimento das famílias à chegada a Portugal. É um espaço seguro e acolhedor, onde é promovida uma relação de proximidade e diálogo e onde é possível fazer um diagnóstico psicossocial acerca do perfil individual e de família e compreender o projeto de vida e as expectativas de cada um. Desta forma asseguramos o melhor encaminhamento para as Instituições Anfitriãs.
Acompanhar é um caminho em conjunto, é uma mão dada, baseada na confiança, tantas vezes perdida ao longo da vida. É um caminho onde existe um encontro entre a equipa e as famílias.
Só é possível acompanhar quando compreendemos a verdadeira dimensão e nos colocamos na realidade do outro. É um desafio que se realiza no dia-a-dia, nas pequenas vitórias e conquistas mas também nas dificuldades e expectativas.
Acompanhar é, sem dúvida, um privilégio!”
“A missão do JRS é infelizmente intemporal: Acompanhar, servir e Defender os direitos dos refugiados e imigrantes, principalmente os mais vulneráveis.
Acompanho no gabinete de mediação pessoas de todos os continentes, de diferentes etnias, crenças religiosas, culturais, linguísticas e no início ficamos assustados com tanta diversidade e como conseguiremos chegar até a estas pessoas tão diferentes umas das outras.
Acompanhar é ter a capacidade de acreditar nestas pessoas, que não se deixaram embrutecer pelas suas histórias de vida que ainda acalentam algum sonho bem escondido, que se deixam encantar com pequenos nadas, aqueles que ainda conseguem sorrir e fazer sorrir os outros.
Tenho uma enorme admiração por estas pessoas, elas ensinam-me todos os dias o sentido da gratidão e da humildade perante aquilo que fazemos, a falta de interesse pelo mundo e pelos outros é o pior que nos pode acontecer , e para mim aqueles que ainda olham para os que estão ao seu lado, conseguem sentir compaixão e amizade apesar de todas as tormentas que passamos, esses sim, são aqueles que serem caminhar juntos e com um objetivo de ter uma vida melhor.
Para mim acompanhar é resiliência, é entender que para além da inteligência é importante cuidar das emoções, da empatia, da aceitação da diferença e em aprender que não vivemos sozinhos, os outros caminham connosco…que o importante é que ninguém solte a mão de ninguém!”
“Acompanhar é fazer parte do processo de reconstrução da vida dos refugiados que chegam a Portugal com o sonho de encontrar algum sentido para si e para as suas famílias. É fazer parte do seu dia-a-dia e de todas as vitórias e derrotas ao longo do seu percurso, sabendo que somos a família, os amigos e o porto seguro que foram forçados a deixar para trás, quando fugiram do seu país de origem.”
“Servir é a missão que se nos coloca diariamente, de sermos os melhores profissionais que sabemos e conseguimos. É estar/caminhar lado-a-lado, sem juízos de valor. Reconhecer a dignidade do outro enquanto ser humano e promover as suas capacidades, na perspetiva de um futuro melhor.”
40 anos: 40 formas de servir
escutar ❣️ relacionar ❣️ respeitar ❣️ comunicar
refletir ❣️ apoiar ❣️ partilhar ❣️ mediar
fazer (em conjunto) ❣️ cuidar ❣️ atender ❣️ colaborar
ajudar ❣️ capacitar ❣️ proteger ❣️ ensinar
refazer ❣️ sentir ❣️ mudar ❣️ encaminhar
valorizar ❣️ estar (próximo) ❣️ acolher ❣️ tranquilizar
priorizar ❣️ auxiliar ❣️ encaminhar ❣️ orientar
compreender ❣️ autonomizar ❣️ aconselhar ❣️ empatizar
questionar ❣️reconhecer ❣️ participar ❣️ motivar
promover ❣️ dignificar ❣️ informar ❣️ integrar
Este é o trabalho do Gabinete Social do JRS Portugal, todos os dias, ao longo dos anos!
“Para o Gabinete de Habitação do JRS, servir os nossos utentes, imigrantes e refugiados em situação de vulnerabilidade social, é ajudá-los a encontrarem um lar. Para isso, conjuntamente com os nossos utentes, procuramos descobrir no mercado de habitação privado e público uma habitação que se enquadre nas suas necessidades sociais e capacidades económicas e mediamos a relação entre os senhorios e os nossos utentes.”
“Estar envolvido na missão do JRS é mais do que Servir, é estar disponível para fazer algo mais. Não nos propomos apenas a disponibilizar conhecimento, respostas criativas ou até mesmo projetos inovadores. Quanto mais procuramos respostas para as necessidades que identificamos junto dos nossos migrantes e refugiados, mais nos questionamos pelo significado do Servir. Conhecer o outro, quem está ao nosso lado, estar presente e saber escutar, é Servir.
Servir com amor, dedicação e não esperar receber algo em troca. Gratidão pelo que aprendemos todos os dias, pelo que nos ensinam, pela sua simplicidade, resiliência perante as adversidades e pela forma como nos ajudam a valorizar a vida.”
“Defender é dar voz às pessoas que acompanhamos e servimos diariamente. É aproximar realidades e lutar para que as pessoas deslocadas, imigrantes ou refugiados, encontrem em Portugal e na Europa aquilo que procuram quando partem dos seus países: não só a Segurança, a Paz e os Direitos Humanos, mas acima de tudo um país que os acolhe, que reconhece a sua coragem e valor, que lhes dê a oportunidade de reconstruir as suas vidas.”
“Para mim, Defender é mudar a mentalidade das pessoas que nos rodeiam. É muito importante que a próxima geração cresça informada e que consiga compreender os outros e colocarem-se na sua pele, que cresça consciente de que somos todos Iguais e que são mais as coisas que nos unem do que aquelas que nos separam. Serão eles os futuros líderes, capazes de mudar o Mundo e torná-lo um lugar melhor.”
“Para o gabinete jurídico, defender os nossos utentes, imigrantes e refugiados em situação de vulnerabilidade social, é, em primeiro lugar, capacitá-los de que são plenos cidadãos com igualdade de direitos, conforme consagrado na nossa Constituição, pelo que têm direitos que podem e devem ser exercidos e é, no reverso, reafirmar repetidamente este princípio perante as autoridades públicos e privados, o que fazemos através da informação, da mediação, do apoio ao exercício de direitos e, em último termo, na assessoria jurídica com recurso aos tribunais.”
“Encontramos os migrantes em situação de detenção em enorme estado de fragilidade. O que procuram é alguém que os oiça, que lhes explique o que está a acontecer, alguém em quem sintam que podem confiar. É fundamental que estas pessoas percebam que não perderam a dignidade que nasceu com elas e que permanecem centros de direitos e deveres. Para que possam tomar decisões esclarecidas quanto às suas vidas, e para que possam voltar a ter esperança, é necessário que tenham informação sobre o quadro legal português e sobre os apoios de que podem beneficiar, nomeadamente, o acesso a um advogado. Esse é, fundamentalmente, o conteúdo que damos ao que seja defender migrantes em situação de vulnerabilidade, no contexto da detenção administrativa.”
Na minha perspetiva, o mais importante para os nossos formandos é o facto de sentirem que têm pessoas disponíveis para os ouvir.
Todas as pessoas que chegam diariamente à JRS (Serviço dos Jesuítas aos refugiados), são um público muito especial, a grande parte chega sozinho tendo abandonado tudo, família, amigos e uma vida fica para trás, porquê?
O que os levou a ter a coragem de abandonar tudo?
Chegam muitas vezes debilitados psicologicamente, sentindo-se inferiores.
É aqui que começa o nosso papel, ouvi-los e ajudá-los a levantar a autoestima, que muitas vezes já não existe. Faze-los perceber que são pessoas, iguais a todas as outras, que têm direitos mas também deveres perante a sociedade.
Pedro Arrupe considerava-se um homem universal. Viveu em 3 continentes: Europa, América e Ásia. Nascido em Espanha, estudou na Bélgica, na Alemanha, nos Estados Unidos, e, foi, durante 26 anos, missionário no Japão. Como Padre Geral, o Padre Arrupe, teve a oportunidade de visitar o continente africano, vários dos países da América Latina, do Sudoeste Asiático, até o longínquo Alasca não ficou sem ele conhecer. Esta experiência da diversidade de culturas e costumes, desenvolveu nele uma paternidade espiritual que o levava a sentir-se “pai” de muitos dos seus filhos espirituais dispersos pelos quatro cantos do mundo.
Em 1980, o P. Arrupe deixou-se tocar pela tragédia dos refugiados vietnamitas que fugiam em barcos do Vietnam. Ao ver as imagens de barcos superlotados de pessoas a deriva no mar, o P. Arrupe, inspirado por Deus, decidiu mobilizar os Jesuítas Provinciais de todo o mundo e obteve muitas respostas positivas que o levaram a começar a obra do Jesuit Refugee Service (JRS). Assim, no dia 14 de Novembro de 1980, nascia o JRS e a missão de Acompanhar, Servir e Defender, num modelo de estreita colaboração entre a sociedade civil e a Companhia de Jesus, que inicialmente se pensava que iria durar apenas uns anos, mas que vai em 40 anos e espalhado por vários continentes.
“Acompanhar, Servir e Defender é dar a mão a quem nos procura. É ajudar a encontrar um caminho e a reconciliar-se com o seu passado. É fazer parte da construção de um futuro mais digno para as pessoas. Ao longo destes 40 anos, o JRS procurou sempre honrar o legado do nosso fundador, o Padre Pedro Arrupe, e caminhar ao lado dos imigrantes e dos refugiados que chegam a Portugal, durante o seu percurso. Hoje, dia 14 de novembro, celebramos não apenas uma data, mas o sentimento de esperança que fez nascer esta missão e que hoje nos inspira e nos faz continuar com a mesma força e determinação.
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