Helena Anjinhos: ” Observo em seus rostos, a esperança, a expectativa de uma nova vida”
Sou brasileira, com nacionalidade portuguesa por parte de meu pai. Sempre fui apaixonada por Portugal. Cheguei em Lisboa há dois anos e três meses, para o mestrado em Psicologia Comunitária, proteção de crianças e jovens em risco. O meu primeiro encontro com o JRS aconteceu quando tive a oportunidade de estagiar no CATR. O CATR trouxe-me a uma realidade nunca vivida antes em meu país.
Paralelamente, ao trabalho dentro do CATR, fui convidada a realizar formações, como voluntária, na sede do JRS com turmas de migrantes que se preparavam para o estágio profissional. Assim, ajudei na formação de três turmas, com um total de 28 alunos. O objetivo das formações era o de desenvolvimento pessoal, através de aulas que promovessem o autoconhecimento, aumento da autoestima, reconhecimento das necessidades, oportunidades e escolhas, e de competências acerca do processo de trabalho em equipa, negociação, compreensão de conceitos básicos sobre trabalho, a gestão de conflitos nos relacionamentos interpessoais e profissionais. As diferenças culturais também eram trabalhadas para que houvesse um maior respeito, bem como um melhor conhecimento da cultura portuguesa.
Sobre a minha experiência, o que mais destaco foi a oportunidade de experimentar uma interculturalidade. Na qualidade de imigrante, facilitou-me a empatia. A minha postura foi sempre de respeito e de procurar a troca de informações, costumes, e tudo o mais que pudesse me aproximar de cada um que ali estava, aprendendo e ensinando ao mesmo tempo, sem que fosse imposta a minha cultura ou a do país onde estamos. O que mais me impressionou nesta população que chega, muitas vezes, sem qualquer condição financeira e até emocional, foi a resiliência, a alegria vivenciada nas dinâmicas, o desprendimento e a crença em dias melhores e principalmente, a coragem de deixar tudo para trás.
Sempre procuro conhecer a história de vida de todos que passam por mim e observo em seus rostos, a esperança, a expectativa de uma nova vida, superando muito sofrimento e trauma, o que me renova as forças e alimenta o meu desejo de contribuir com o melhor de mim, para fazer a diferença e ajudá-los a concretizar os sonhos e anseios de uma vida melhor.
O trabalho do JRS é um diferencial na vida das pessoas que aqui chegam. Observo o empenho em orientar e direcionar a todos que chegam, objetivando dar uma melhor solução aos migrantes, oferecendo as mesmas oportunidades com respeito e igualdade.
Para finalizar, acrescento que só um desejo não me larga, o de ver a guerra, as injustiças sociais, e todas as demais dificuldades sofridas por esta população se tornarem um passado, e não haver mais migrações forçadas, sendo as chegadas somente como turistas em férias.
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