“Faz-me lembrar Alepo, os prédios, as ruas e o sol.”
Tamim tem 29 anos, nasceu em Alepo na Síria estava no terceiro ano de engenharia civil quando teve que sair da sua cidade. Apesar de ser aluno da Universidade de Alepo não lhe deram o papel que autorizava a escusa de serviço militar. A 23 de janeiro de 2013, Tamim viu a sua família pela última vez, com a esperança de conseguir viver na Síria e um dia voltar à sua cidade. Chegou a Deir Ez-zor, uma zona ocupada pelo Movimento Free Sirya e começou a dar aulas de matemática na escola secundária onde conheceu Bushra com quem casou. Enquanto viveu em Deir Ez-zor, trabalhou com a uma organização na distribuição de vacinas. Bushra estava no primeiro ano do curso de química quando a vida na Síria deixou de ser segura. “Vivemos 2 anos em Deir Ez-zor, dia 1 de janeiro de 2016, a Bushra estava grávida de 7 meses, saímos da Síria”.
Deixaram Deir Ez-zor numa altura em que as fronteiras estavam muito apertadas, estiveram quase dois meses a tentar entrar na Turquia. Aqui ficaram apenas durante duas semanas de onde apanharam o barco que atravessou o Mar Egeu. “Dois dias depois de chegar à Grécia, nasceu a Heidi, a nossa primeira filha.” A primeira noite na ilha de Lesbos foi passada no campo de Moria, mais tarde a família foi acolhida pela equipa da Caritas. Aqui tiveram uma entrevista com a PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados e souberam que vinham para Portugal. Em maio foram para Atenas e dia 28 de setembro de 2016 chegaram a Portugal. “De Portugal conhecia apenas o Cristiano Ronaldo.” Primeiro viveram em Braga e depois no Porto. Foi dia 23 de outubro de 2016 que chegaram a Lisboa. Estavam ansiosos para começar a estudar e a aprender a língua, mas nos primeiros seis meses nada aconteceu. Durante este tempo, Tamim esteve a ajudar a preparar as casas para as novas chegadas e Bushra tomava conta da Heidi enquanto assistia a aulas de português. Ao fim de seis meses receberam o estatuto de refugiados e podiam começar a tratar da universidade.
Depois de muitos emails trocados com a Plataforma Global para Estudantes Sírios, Bushra e Tamim foram aceites para estudar Engenharia Informática na Universidade Lusófona. Acabaram agora o primeiro semestre que dizem ter corrido bem. “Tenho dois amigos, o João e o João, os professores são muito simpáticos, estão sempre a querer ajudar-nos, mas nós somos um casal e entrámos mais tarde na faculdade por isso, ainda nos estamos a tentar integrar”, explica Tamim. Heidi está agora no Colégio Moderno também com o apoio da Plataforma. “Agora é muito bom porque vamos a pé para a universidade e no caminho deixamos a Heidi no colégio”.
Quando perguntámos o que pode ser melhorado em Portugal a resposta é rápida: “A burocracia. Tudo demora muito tempo. A Bushra e eu tivemos sorte porque só demorou seis meses o nosso processo, mas conhecemos refugiados que estão há dois anos à espera. Digo sempre quando as pessoas chegam a Portugal: Tens que ter paciência e esperar. Para nós, sírios é muito difícil porque na Síria tínhamos uma dor e íamos ao médico e eramos atendidos, aqui podemos esperar dois meses por uma consulta.” O programa do Tamim está a acabar e vai deixar de ter apoio à habitação. A renda da casa onde está custa o dobro do que pode receber com os subsídios. Tal como Tamim, Bushra ainda se está a adaptar à faculdade, foram muitos anos sem escola, e agora estão a estudar numa língua que ainda não dominam. O Tamim já conheceu outros alunos da Plataforma Global de Estudantes Sírios que estão agora a trabalhar e é este o caminho que espera conseguir.
Mas quando lhes perguntamos as coisas boas de Lisboa riem e dizem: “Faz-me lembrar Alepo, os prédios, as ruas e o sol. Aqui em Portugal eu não sinto racismo. É seguro, podemos andar na rua depois da meia noite e ninguém nos faz mal. Para ser honesto eu nunca senti que não pertencia a Portugal.”
Partilhe...