“Aprendi, antes de mais, que cada pessoa é um mundo”
Até há algum tempo atrás, vivi durante três anos com o meu marido e os meus filhos no Brasil. Foi lá que comecei a ter contacto mais de perto com a questão dos refugiados, nomeadamente com aqueles que fugiam da guerra na Síria.
Dado que com o nascimento do meu terceiro filho tomei a decisão de abandonar a minha exigente carreira profissional para acompanhar mais de perto o crescimento das crianças, o regresso a Portugal fez-me ponderar que esta poderia ser talvez a oportunidade que procurava para poder integrar um projeto de voluntariado.
Por coincidência, pouco tempo depois, e através de um contacto efetuado com uma pessoa da Paróquia de São João de Deus, foi-me lançado o desafio de apoiar alguns refugiados sírios e eritreus na aprendizagem da Língua Portuguesa, com o objetivo concreto de os auxiliar na integração do mercado de trabalho.
Comecei então a fazer voluntariado no CATR (Centro de Acolhimento Temporário para Refugiados), onde estive durante alguns meses e onde fiquei a conhecer de perto o JRS Portugal, dado que este projeto resulta de uma parceria entre esta entidade e a Câmara Municipal de Lisboa.
Apoiar pessoas que se encontram em situações de extrema vulnerabilidade, com a agravante de não falarem a nossa língua e nem conhecerem os nossos costumes, foi deveras um desafio exigente. Cada dia era um dia diferente, que era preciso gerir tendo em consideração as necessidades e a situação psicológica de cada uma dessas pessoas.
Em Novembro de 2016, surgiu a oportunidade de passar a integrar o Gabinete de Emprego do JRS Portugal, na parte de atendimento ao público. Neste espaço, temos como objetivo ajudar migrantes e refugiados na procura de oportunidades no mercado de trabalho.
Apesar de acreditar que podemos fazer alguma diferença na vida destas pessoas, ainda assim todos os dias me deparo com situações que muitas vezes me deixam frustrada: desde as ofertas de trabalho disponíveis nem sempre se enquadrarem no perfil das pessoas que nos procuram, à necessidade adicional de fundos para assegurar mais formação aos nossos utentes ou até ao atendimento de pessoas com qualificações superiores que acabamos por encaminhar para trabalhos menos qualificados por falta de equivalências em Portugal.
Muito embora a minha função atual no JRS seja bastante distinta do meu primeiro projeto de voluntariado, a verdade é que, em ambos os casos, as experiências foram e têm sido bastante gratificantes. Aprendi, antes de mais, que “cada pessoa é um mundo” e que não devemos julgar ninguém pelas suas decisões de vida, ainda que nós pudéssemos achar que teríamos feito diferente.
Em voluntariado devemos claramente esquecer o nosso ego e centrarmo-nos exclusivamente nas pessoas que ajudamos, procurando sempre a excelência em tudo o que fazemos.
Recordo frequentemente a frase do Padre Jesuíta Pedro Arrupe que dizia: “Não me resigno a que quando eu morrer o mundo continue como se eu não tivesse vivido.”. Num mundo cada vez mais individualista, seria bom que cada um de nós fosse capaz de dar nem que fosse um ínfimo contributo nesse sentido.
Sandra Parente, voluntária do JRS Portugal
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