1 ano de guerra na Ucrânia | As vozes da integração
Para o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), um ano de guerra na Ucrânia significa, acima de tudo, um ano de acolhimento de pessoas refugiadas de um conflito na Europa.
A experiência de ter de sair do próprio país em guerra é extremamente intensa a nível emocional e psicológico. Há sempre uma grande carga de dor e comoção ao ter de abandonar a sua terra – deixando, por vezes, família para trás – chegar a um novo país, principalmente sem essa ser uma escolha livre. É importante que o acolhimento destas pessoas seja profissional, mas também muito humano e dignificador.
O acolhimento de refugiados faz parte do ADN do JRS. No Centro de Acolhimento de Vila Nova de Gaia, no Seminário de Cristo Rei, já foram acolhidas mais de 180 pessoas desde o início da guerra na Ucrânia. Escutar as suas palavras é uma motivação para continuarmos a trabalhar cada dia para Acompanhar, Servir e Defender os refugiados que nos são confiados.
Tal como estes, mais de 1250 pessoas oriundas deste conflito foram recebidas pelo JRS, de norte a sul do país.
As vozes da integração
Quero falar sobre como minha vida mudou desde o início da guerra na Ucrânia. Eu, o meu marido, a minha sobrinha e os seus filhos voámos para Portugal em março do ano passado, graças a voluntários, fomos acomodados num seminário. Desde o início e até agora, eles dão-nos apoio psicológico, além de ajudar com produtos de higiene, roupas e calçado. No início, abrigámos cerca de quarenta ucranianos e, com o tempo, esse centro tornou-se internacional.
Graças ao trabalho de uma equipa de voluntários, podemos passar nosso tempo livre fazendo várias coisas: depostos, agricultura, cursos de idiomas, ioga e muito mais. Queria expressar minha gratidão a todos os voluntários de nosso centro pelo seu apoio e ajuda neste momento difícil.
– Tetyana, Ucraniana
Vim para Portugal, para a cidade de Vila Nova de Gaia com as minhas duas filhas no passado mês de Março. No início, vivi no colégio de Nossa Senhora da Bonança até outubro, e já em outubro todos os que lá residiam foram convidados a deixar as instalações do colégio privado.
Entrei em contato com os voluntários do seminário e eles prometeram fornecer uma casa para mim e para minha filha mais nova a partir de outubro. Uma casa para nós as duas pois a a minha filha mais velha iria voltar para Ucrânia… Foi assim que acabei no seminário. Graças ao grande trabalho dos nossos assistentes, funcionários da JRS aprendemos português, há aulas de ioga, vários eventos de entretenimento que acontecem várias vezes uma semana. Os nossos filhos trabalham com uma voluntária e participam várias vezes em master classes.
Nos fins de semana, as crianças passam o tempo na sala de brincar, que foi especialmente equipada para elas. Toda semana, nós, ucranianos, preparamos nossos pratos tradicionais para todos os residentes do seminário.
A minha vida, graças a Deus, mudou para melhor, muito obrigada.
– Natália, Ucraniana
Depois de deixar a Ucrânia no dia 28 de fevereiro, fui para a Alemanha de comboio e autocarro, na esperança de ter a oportunidade de começar de novo. Depois cheguei a França, porque na Alemanha não resultou. No entanto, o tempo que passei lá foi ainda pior devido às minhas crenças religiosas, já que uso hijab.
Ao enviar mensagens de texto para diferentes grupos online, li que Portugal era o único país que aceitava refugiados sem a precisarem de ser cidadãos ucranianos. Apanhei um autocarro de Paris para Madrid e depois de Madrid para Lisboa e cheguei no dia 14 de agosto.
Quando comecei a deambular por Lisboa lembrei-me de Casablanca, e finalmente, depois de muito tempo, senti-me em casa.
Uma das primeiras coisas que reparei nos portugueses é a hospitalidade e a forma como nos tratam , algo que há muito não sentia.
Quando cheguei ao seminário a primeira coisa que perguntei foi até quando poderia ficar, já que antes em Lisboa davam-nos um “prazo de validade”. Felizmente, a resposta foi que poderíamos ficar até termos mais estabilidade nas nossas vidas.
Por esta mesma razão, pude começar uma nova vida em Gaia, onde comecei a fazer novos amigos e a conhecer melhor a cultura, língua e hábitos portugueses. Além disso, ao ficar no seminário conheci pessoas de outros países que estavam, como eu, a morar na Ucrânia, por exemplo, Argélia, Irã, Gana, etc…
Todos nós estávamos a passar pelas mesmas coisas, as lutas para aprender um idioma novo e completamente diferente do que falávamos, para nos adaptarmos a uma nova culinária e até para nos adaptarmos ao clima frio.
Morar no seminário é totalmente diferente da minha vida na Ucrânia – aqui eu tenho que dividir o quarto, casa de banho e tudo, mas ao mesmo tempo é um desafio para mim aprender algo diferente e também gosto do facto de algumas pessoas aqui confiarem em mim para encontrar soluções para seus problemas e compartilhar as suas histórias comigo, isso faz-me sempre perceber que a única coisa que me deixa mais feliz é ajudar outras pessoas o máximo que posso.E também me faz acreditar que o amanhã vai ser melhor.
– Testemunho não ucraniano
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