Artigo: Apoio à Saúde Mental de pessoas refugiadas
O apoio na área da Saúde Mental tem sido desenvolvida pelo JRS há já vários anos. Desde 2018, este apoio tornou-se mais especializado junto da população refugiada, partindo da experiência da presença do JRS no CATR (Centro de Acolhimento Temporário para Refugiados). Desde setembro de 2018 até fevereiro deste ano, a equipa de Saúde Mental do JRS ali presente já acompanhou 144 pessoas individualmente e 215 em regime de psicoeducação em grupo. Leia aqui o artigo que Cláudio Gonçalves, responsável pela Área da Saúde Mental escreveu sobre esta intervenção.
O Apoio em Saúde Mental surge na necessidade de ter um serviço capaz de ir em resposta a necessidades sentidas no acompanhamento para a integração de pessoas refugiadas em território Português.
O ser refugiado, por estar associado a uma deslocação involuntária e repentina, significa perder muito do que representava a identidade da pessoa no seu país de origem, como os hábitos, relações, estatuto profissional e social e residência. Estas perdas materiais e culturais e o trauma das situações que viveram no percurso de deslocação do seu país têm como consequências um sofrimento psicológico (Martins-Borges, 2013). Simultaneamente a migração acarreta um conjunto de dificuldades que leva ao stress e ao luto migratório (Achotegui, 2009).
Foi desenvolvido um programa em saúde mental com normas e procedimentos definidos de modo a otimizar o acompanhamento, que segue os seguintes passos: triagem em saúde mental, acompanhamento psicológico e psiquiátrico, psicoeducação individual ou em grupo.
A triagem em saúde mental é uma ferramenta realizada na primeira sessão, eficaz para a identificação e avaliação dos principais fatores de risco mais descritos na literatura em refugiados. É traçado um histórico em saúde mental, assim como uma triagem sobre vitimização no país de origem ou durante o processo de migração. Por fim, são aplicadas escalas para diagnóstico das sintomatologias mais comuns nesta população (sintomatologia depressiva, ansiosa e de stress pós-traumático).
Com esta triagem não se pretende criar um diagnóstico, mas sim perceber se existe necessidade de acompanhamento psicológico e psiquiátrico, uma vez que no processo de integração, os refugiados ainda se encontram em modo de sobrevivência e é expectável que alguma sintomatologia apareça, mesmo sem presença de patologia (Knobloch, 2015).
Para complementar a integração dos refugiados acolhidos pelo JRS são utilizadas técnicas de psicoeducação, onde se relacionam instrumentos psicológicos e pedagógicos com o objetivo de desenvolver um trabalho de consciencialização de processos internos do próprio.
Gráfico: Nº de acompanhamentos em Saúde Mental (set.2018 a fev.2019)
O percurso efetuado até agora, pelos técnicos de saúde mental, permitiu o desenvolvimento de competências teórico práticas e pensamento critico-reflexivo. Esperamos, num o futuro próximo prosseguir com formações para profissionais e intérpretes desta área de atuação, a fim de capacitar para um desempenho de qualidade e contribuir para uma prestação de serviço mais alargada e com maior alcance à população refugiada em território português.
Artigo escrito por Rosário Suarez e Cláudio Gonçalves.
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