Olhando o pássaro a voar pela janela
Quase a regressar a casa após viver quase dois meses no shelter do JRS Grécia, em Atenas, o balanço é muito positivo. Desde a primeira hora que sinto pertença, que me sinto em casa.
Viver no shelter significa partilhar: vida, momentos, preocupações, alegrias, momentos de transição, partidas e chegadas. Significa comunhão, significa caminhar lado a lado. Significa ser família, ser unidade.
No shelter vivemos em comunidade, famílias requerentes de asilo, voluntárias e voluntários e a comunidade jesuíta. É aqui que as nossas vidas (e atividades) se cruzam e se desenrolam (aqui, no edifício adjacente – Centro Arrupe e no edifício de Filis).
São várias as atividades que desenvolvemos, desde as que envolvem os mais jovens (kindergarden de manhã -nas férias de Verão – e arts and crafts à tarde), até às sessões de cinema para miúdos e graúdos, o acompanhamento de cada utente a consultas (médicas, legais), aulas de yoga para jovens e adultos, desporto e o grupo de mulheres (o qual foi retomado após férias do verão). Num piso inferior do nosso edifício temos o magasi, onde se encontram os donativos de roupa e de outros NFI’s (non food items) onde não só as pessoas do shelter como também da vizinhança podem escolher a roupa que precisam e outros bens essenciais (champô, gel duche,fraldas, entre outros).
A cinco minutos do shelter temos os serviços administrativos (no edifício de Filis) bem como uma pequena cantina, onde são servidos os almoços e os jantares para a comunidade do shelter, sendo o remanescente distribuído pela população refugiada e migrante que está alojada perto da estação de metro de Vitoria (a 5 minutos a pé).
Atualmente no Centro Arrupe, prestamos apoio escolar e realizamos sessões de arts and crafts às crianças de famílias migrantes que se encontram em Atenas há anos e que estão numa fase do processo de integração mais avançada.
Tudo é pensado e feito para a comunidade, não só a comunidade residente mas também a comunidade local, maioritariamente constituída por população migrante.
Para o desenvolvimento destas atividades, tem sido essencial o contributo dos voluntários da PAR, os quais cooperam para o desenvolvimento e implementação das atividades do shelter, sendo a distribuição destas atividades organizada pela própria PAR.
Durante a minha permanência aqui tenho, essencialmente, colaborado no kindergarten, no arts and crafts e na recolha de dados para o projecto PEB, no qual participa também o JRS Grécia.
Através de todas estas atividades, e também pelo facto de viver com as famílias no mesmo edifício, tive o privilégio de conhecer de perto as suas histórias e de partilhar o dia-a-dia com elas. A esmagadora maioria das pessoas que encontrei quer seguir «viagem» até outros destinos na Europa, qual pássaro a voar ao sabor do vento de final do Verão, em busca de paragens mais quentes fugindo ao rigor do Inverno que aí se adivinha. No entanto, as políticas externa e interna, deixam adivinhar ventos de mudança que visam a integração da população refugiada na sociedade grega (a qual ainda tenta sair da crise económica, capítulo esse da história moderna da Grécia que está longe de findar). Veremos de que forma tudo se processará.
Por agora, apenas posso adiantar que toda a experiência aqui vivida é muito intensa e gratificante pelos momentos partilhados. Nesse sentido, gostaria de agradecer ao JRS Portugal, ao JRS Grécia, às equipas da PAR em Atenas e a todas e todos os voluntários e a cada família do shelter por toda a ajuda, apoio e por todos os momentos de partilha ao longo desta caminhada.
Muito obrigada a cada um e a cada uma! Esta experiência de crescimento tem sido única e muito, muito gratificante graças a vocês!
Bem-haja e até sempre
Tatiana
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