“Com o JRS no Chade”
Quando soube que iria trabalhar no Chade tive de ir ao mapa procurar onde ficava esse país. Foi com surpresa que percebi que é um país bastante grande e que está no meio de outros complexos: Sudão, Líbia, Níger, Nigéria, Camarões e República Central Africana. A sua localização geográfica deu-me ainda mais vontade de ir…com a certeza de que os refugiados com quem ia trabalhar teriam passado um longo e difícil caminho até lá chegar.
No Chade, o JRS é a ONG responsável pelo sistema de educação nos 12 campos de refugiados a Este. Eu estou como coordenadora em dois campos (Djabal e Goz-Amir) e numa aldeia (Kerfi). Os campos têm em média 20 mil refugiados sudaneses, que estão no Chade há mais de 12 anos. A situação muda de uma intervenção de emergência por uma ação de desenvolvimento sustentável. Este ano, para além de projetos de educação, o JRS tem a seu cargo a Proteção da Infância, com vista a lutar pelos direitos das crianças nos campos.
Este último pode parecer desinteressante, mas tenho descoberto que a cultura e mentalidade no Chade dificultam a participação escolar, sobretudo das raparigas. Num país onde ainda existe a mutilação genital feminina, o casamento infantil forçado e arranjado, onde o papel da mulher não é mais do que cuidar da casa e ser mãe (normalmente de uma dezena de crianças), verifica-se uma taxa de escolaridade feminina bastante baixa. E contrariar esta realidade é trabalhar todo o conceito de família e futuro.
Há seis meses que aqui estou e todos os dias são diferentes e desafiantes. Vivo em Gozbeida a maior parte do tempo (onde fica o campo de Djabal) e tento ir semanalmente a Koukou (onde fica Goz-Amir). Rotas de 40 km levam uma hora, e agora com a época das chuvas por vezes as ruas são interrompidas por rios, impossibilitando o caminho. Por isso o trabalho vai-se fazendo à distância, graças às 20 pessoas que colaboram com o JRS no terreno.
As minhas condições de vida são bastante simples: sem eletricidade 24 horas por dia, um mercado local que depende dos produtos agrícolas da época/zona, uma vida social que se limita ao convívio entre pessoas (não há cinema, museus, concertos, sair para ir ao café…).
Mas nesta simplicidade tenho-me sentido muito em casa. Mais centrada no essencial. Mais focada no que de verdade importa. Deixo-me surpreender com as pequenas coisas, a tocar a beleza da natureza, a encher o coração no sorriso das crianças que não estão acostumadas a ver uma branca.
O Chade tem sido uma escola. E eu quero ser uma ótima aluna: beber tudo e em tudo crescer para ser e dar ainda mais!
Pode acompanhar a missão da Joana através da sua página de facebook ‘Trocar o certo pelo incerto’ aqui.
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